É errado, bem sei, mas como passar por um
furacão sem me abalar, como salvar a própria pele, se sou um estereótipo mal
feito de tudo que me aclamam? De certo criei minha própria imagem, covarde e
imunda. Cavei minha cova. Tendo em vista essa erva daninha que sou, jamais
serei rosa. A fraca brisa que sopra já me abala inteira. Pinto-me de forte
assim que abro os olhos, mas a máscara é tão mal colocada em meu rosto, que
desmancha na primeira esquina. E ninguém percebe porque — como uma erva daninha
num mato qualquer — ninguém me nota. E, quando me notam, logo percebem que
afrouxo, dissemino meu veneno, minha eterna pose de anjo. Não, não, ninguém me
vê como sou. Reparam apenas na falsa delicadeza que transmito religiosamente e
incansavelmente. O que sou? Não sei, só sei que não sou e isso é tudo. Tudo que
tenho, sem querer ter, apenas ser. E ser, não basta.
(Ju Fuzetto e Maria Fernanda Probst)
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