sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ser, não basta.

É errado, bem sei, mas como passar por um furacão sem me abalar, como salvar a própria pele, se sou um estereótipo mal feito de tudo que me aclamam? De certo criei minha própria imagem, covarde e imunda. Cavei minha cova. Tendo em vista essa erva daninha que sou, jamais serei rosa. A fraca brisa que sopra já me abala inteira. Pinto-me de forte assim que abro os olhos, mas a máscara é tão mal colocada em meu rosto, que desmancha na primeira esquina. E ninguém percebe porque — como uma erva daninha num mato qualquer — ninguém me nota. E, quando me notam, logo percebem que afrouxo, dissemino meu veneno, minha eterna pose de anjo. Não, não, ninguém me vê como sou. Reparam apenas na falsa delicadeza que transmito religiosamente e incansavelmente. O que sou? Não sei, só sei que não sou e isso é tudo. Tudo que tenho, sem querer ter, apenas ser. E ser, não basta.
(Ju Fuzetto e Maria Fernanda Probst)

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