Amigo, tá ai?
Preciso muito te dizer que o nosso problema com relacionamentos, não é nosso
problema, e que nós não somos os errados.
Sim, somos
esquisitamente carentes, mas isso faz parte da nossa essência. Carregamos o
mundo todo nas costas ou dentro do peito, e no fim, só queremos que alguém
abrace ele, ou, de repente, faça um curativo ou outro, pra ele continuar
batendo. Pra represa não romper.
A gente se doa, se
dói, se entrega e apanha. Mas no fim, tudo que fazemos é importante. Ensinamos
as pessoas o que é ter alguém que se importa, que ama, que liga no dia seguinte
ou mais de uma vez no mesmo dia.
Ainda somos aqueles
tipos que estendem o paletó pra daminha saltar a poça d'água, ou que abre a
porta do carro, escreve poema, carta de amor. A gente ainda ouve música e
chora, cara, a gente, ainda, chora. Sabe o quanto isso é raro nesse mundo de
estátuas de sal que vivemos?
Seguindo... A gente
ainda lembra no fim da tarde, nos domingos à noite, ou enquanto o mundo todo
pega fogo, mas sabe, nossa cabeça tá lá, bem longe. Porque por mais difícil que
seja suportar o próprio peso, só a ideia de que alguém, aquele alguém precisa
da gente, seria capaz de anular todas as dores do nosso corpo.
Amigo, pessoas como
nós são tão raras! Só agora percebi esse egoísmo ridículo. Sabe, a gente aceita
tanta coisa, pondera, elogia, critica, analisa, ressalta, discute, a gente
entende tanta coisa, menos a gente. Talvez tenhamos nos acostumados a ser o que
somos e busquemos alguéns assim, tipo nós. Meio bocós.
Sim, meio antas,
sabe? Porque todo romântico é ridículo. Toda carta de amor, também já disseram
antes, é. Mas não seriam cartas de amor se não fosse, não é mesmo?
Amigo, ainda tá ai?
Preciso muito te dizer que o nosso problema com relacionamentos, não é nosso
problema, e que nós não somos os errados. Erradas são todas as pessoas que se
deixam contaminar pela dura e fria forma de viver, e acabam rejeitando carinho,
porque sua liberdade precisa vir acompanhada da solidão.
(Matheus Rocha em Carta ao Ribis )
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