Então me deixa ser
claro e te explicar uma coisa: corações partidos são reparados com o tempo, com
o acaso, com técnicas que a gente nem sabe se funcionam, mas tenta. Acho que na
verdade eles se curam da tentativa. Ou nunca curam, a gente que consegue mentir
bem pra gente e acredita. Cê mente bem? Mente pra si, mas não tenta mentir pra
mim porque eu quero ajudar. As coisas aí dentro tão meio dilaceradas, tua
bússola não funciona mais, não dá mais pra apontar pro norte. Então vai pro sul. Vai sentir algo gelado, frio, que peça
abrigo e não dê. Sente um pouco do escuro, chora, vai, chorar faz bem e lava o
rosto, deixa tuas marcas nas olheiras e põe pra fora. Eu acho que a gente não
cura, a gente drena. Drena a tristeza e drena todo o resto até perceber que secou
e pronto. Depois de secar, você volta aqui e me diz que não arde, mesmo que
esteja ralado. Me diz que montou a bússola no sul e que aquilo lá virou um
norte. Isso acontece muito, essa coisa da gente se reinventar, se realinhar, se
descobrir do avesso. E faz bem porque a gente explora o tato no escuro. A gente
explora os sentidos e põe o instinto pra funcionar mais do que o pobre coração.
(Daniel Oliveira)
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