domingo, 30 de junho de 2013

Sobre a vida.

 Quantas coisas perdemos por medo de perder.


(Paulo Coelho in Brida)


A vida não dá e nem empresta, não se comove e nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos.


(Albert Einstein)


Na essência do sentimento.


E talvez eu seja uma transição do que eu sou para o que sempre quis ser. Tenho leões dentro de mim que às vezes acordam e se desentendem.


(Rayana Krambeck)


Por isso, é que todos os dias eu tento me entender. E me perdoar. E me amar, mesmo com as fraquezas que tenho. Eu me aceitei assim. Imperfeita. Impura. Frágil. Humana. Na essência do sentimento. E da palavra que ela quer dizer.


(Bibiana Benites)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Procure seus caminhos.



Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achar, segure-o!

(Fernando Pessoa)

Uma estranha e secreta harmonia.

Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.


Não me aproximo porque, veja bem, sabe lá quem habita a tua solidão. Hesito. Recuo.(...) Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências. Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. Tu dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora queira. À distância, permaneço te contemplando. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro. Porque tu és o único que habita a minha solidão.

(Caio Fernando Abreu)

Por você.



Por você eu invento um sol compatível com o meu calor. Solto pipa com a maior rabiola. Compro sua esquina predileta. Tatuo meus supercílios.Como trufas com churrasco sem sujar minhas mãos. Por você danço bailão, gafieira, valsa e pagode na mesma noite. Canto ópera no teatro municipal. Faço versos para a lua. Brinco de amarelinha nas estrelas. Dou nó no vento. Alugo o mar para andar de barquinho. Falo qualquer idioma. Aprendo Matemática, Física Quântica, Química, Astronomia. Leio cartas, tarô e faço o horóscopo dar certo. Troco a rua de lugar. Faço um colorido no muro. Roubo morangos fresquinhos. Tomo sopa de lentilha. Moro na China. Pego onda até na lagoa da fazendinha do meu primo. 
Por você faço verso. Roubo um poema. Envio uma carta. Invento uma canção. Escrevo um livro Toco acordeom na praça. Jogo moedas no poço para dar sorte. Dou nó no vento. Por você me invento de novo e ainda acho pouco.
Por você eu até aprendo a fazer um soneto, embora eu prefira um dueto. 
(Ita Portugal)


Para que servem os namorados.



E para que servem os namorados se não for para sentir-se dono dos nossos afetos nem que sejam os dos finais de semana. Servem também para pensar que são os melhores do mundo mesmo esquecendo todas aquelas porcarias de datas que a gente tanto acha importante e no final é só mais um dia normal.
Para que servem os namorados se não for para dizer a um punhado de garotas que existe uma capaz de virar a sua cabeça, mesmo que naquela noite no bar ele tenha olhado de soslaio para a loira longilínea que passou entre as mesas.
Para que serve um namorado? Para dizer volto já e deixar a gente roendo as unhas aflitas, quando ele apenas esqueceu o que prometeu.
Para que serve um namorado, se não for para trazer o ingresso do show mais esperado do ano, sem antes reclamar dizendo à roupa que não deveremos ir.
Para que serve um namorado, se não for para reclamar da quantidade de malas que fizemos apenas para dois dias no litoral. Um namorado serve também para a gente ter certeza de que está tentando ser feliz mesmo com a indisciplina do amor e a surdez do interlocutor que não presta atenção nos nossos sintomas e teimar em não escutar a nossa boa e entusiasmada intenção de fazer dele o homem de nossa vida, mesmo que por alguns segundos. Um namorado serve também para viver uma cena inteira de romance, chocolate e edredons. Serve para tagarelar nos nossos hemisférios e quase no final do dia conjugar o amor.  

Talvez sirva para alguma coisa bonita que eu não sei definir. 

(Ita Portugal)

Ah, o tempo!

Um dia você entende que o tempo não é inimigo. E que ele é o nosso maior mestre. Que tudo vem na hora que deve vir. Que não adianta espernear nem se esconder da vida. Que a fuga não é a melhor saída. E que no fim das contas a gente sempre acaba agradecendo tudo que passou. Porque o tempo (ah, o tempo!) está sempre ao nosso lado para nos mostrar o que realmente vale a pena. 



Que eu não perca esse lado bonito de acreditar de novo. E de novo. E de novo. Que a gente não se perca. Que você não sofra. Que eu consiga encarar o mundo de frente. Que eu nunca me envergonhe dos meus atos ou sentimentos. Que eu consiga dar conta do dia. E de mim.

(Clarissa Corrêa)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Algumas coisas nunca passam.


Dizem que um dia tudo passa. Eu discordo. Algumas coisas nunca passam, não importam os anos, as pessoas e o rumo que sua vida toma. Existem sentimentos que você vai eternizar. Pessoas, que mesmo você não querendo de volta, serão especiais. Não importa o quanto te magoaram, você vai lembrar do quando isso te mudou, e vai agradecer pra sempre á isso. E quando alguém disser que seus olhos estão brilhando, ou te perguntarem porque está sorrindo sozinha, é provável que você não saiba o motivo... Mas já aviso de antemão, que é seu subconsciente te atormentando com a magia de sentimentos que você jura estarem apagados e não estão. 

(Vallenttina)

Conversa íntima.


Livrai-me dos solavancos que misturam e confundem meus sentimentos.
Dos estragos causados pelo coração endurecido.
Das tantas palavras que me leva a pensar que sou “sabida”.
De usar pouco silêncio, quando ele é tão necessário
Do tempo perdido com coisas sérias dos adultos
De anoitecer sem agradecer e amanhecer sem sorrir
De querer ser grande, sem ter sapato de salto alto suficiente
Das palavras ásperas que tanto machucam
De sentir saudade do que não tem jeito
Da solidão, com tanta gente perto
Do apego aos grãos que se dissipam facilmente
De perder tempo com o que foi perdido
Das certezas que me privam da beleza de tecer sonhos incertos
Dos carinhos econômicos por medo de se entregar
Da falta dos riscos que emocionam a vida
De todas as faltas. Da falta de coragem, da falta da música, da falta do toque, da falta de amizade, da falta de fé e de amor.
E liberta-me de usar as hipóteses do desaforo de ser normal e viver o óbvio, engaiolada nas convicções. Que eu renasça com a sensação de que sou poeta, sonhadora, louca e majestosamente viva, sem precisar me preocupar em explicar as razões disso. 


(Ita Portugal)

domingo, 23 de junho de 2013

Sou o que não sei.



Eu sou o que ainda não foi escrito por falta de inspiração. Sou o que não está nas entrelinhas. Sou uma verdade dolorida. O próximo texto. A música antiga. A solidão merecida. O atropelo das palavras. O que não entendi. Sou as respostas sem nenhuma pergunta. As longas explicações para coisas tolas. A imaginação que voa longe e chega a lugares escuros. Sou a conclusão do que ninguém disse. O congestionamento de pensamentos e ideias. O papo longo sobre coisas banais. Sou a pessoa que fica encucada com o fim do mundo, a morte e as perdas. As conclusões apressadas. As emoções urgentes. O choro na madrugada. 
O velho álbum de lembranças. Os e-mails guardados. A insistente melancolia do que foi e não volta. A vontade de que tudo aconteça. A impaciência para as esperas. As preocupações sem motivo. A escrita desaforada. A reclamação sem pensar. A preguiça na hora errada. A lista de coisas por fazer. Sou tanta coisa e ausência de outras. Sou a metade da missa, um terço do rosário. Um décimo da promessa. Sou o que não sei e só espero que quando eu descobrir, dê tempo de contar, de melhorar, de viver. 


(Ita Portugal)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sou imperfeita na tentativa de acertar.



Eu já o deixe ir quando na verdade eu queria que ele ficasse, aliás, eu pedi que fosse.
Eu já chorei todas as dores, todos os amores e todas as angústias. Pensei que não ia passar, mas passou. 
Eu já tentei posar de perfeita, mas deu tudo errado e consegui me recompor.
Eu já andei por caminhos que eu tinha certeza. Até que eu percebi que estava na trilha errada. 
Eu já procurei mil motivos para ser feliz e os motivos eram tão repentinos que passavam. 
Eu também tropecei, senti raiva, despedi a razão, contratei alguns sonhos e tentei por bem ou por força realizá-los. Alguns aconteceram e outros foram sonhos feitos de vento. Mesmo assim continuei de pé.
Eu julguei ser amor, quando era apenas um sentimento confuso e passageiro. Doeu e eu imaginei que não ia sarar, mas virou lembranças.
Falei antes da hora, julguei erradamente, calei por birra, teimei e quebrei a cara, cai, mas levantei e continuei torta, mas inteira. 
Mudei de ideia pensando ser melhor, mudei de habito para conseguir algumas coisas, reescrevi planos, desfiz contratos que eu supunha não dar certo. Deu trabalho, mas fiz tudo isso, querendo fazer escolhas mais acertadas. Não estava completamente correta e tive que pagar um preço por isso. Paguei, reclamei, esperneei e entendi.
Flertei com a esperança e pratiquei a fé, esperando mover todas as montanhas do meu caminho. Superei apenas algumas pedras e fui obrigada a pegar alguns atalhos para desviar das restantes. Não era o que eu esperava, mas deu certo.
Corri atrás da felicidade quando parecia que ela era atleta e sempre estava á minha frente. Fiquei aborrecida, até que um dia, cansada, resolvi olhar dos lados e encontrei boas razões para estar feliz.
Amei com toda minha verdade e de verdade. Achei que era pra valer. Que era pra sempre. Que ia durar uma vida. Não durou o suficiente para me saciar. Durou apenas a saudade. Insisti. Ofereci. Esperei e nada aconteceu. Fui romântica excessivamente. Imperdoável. Inconsolável, sai de fininho. Inconformada, tive que guardar a história. Salvei-me e sobrevivi para contar. 
A vida consignou-me alguns estágios de coisas boas e uma sucessão interminável de “ainda”. Ainda faço. Ainda tenho. Ainda vou. Ainda consigo. Ainda realizo. Mesmo assim “ainda” acho que vivo uma história pessoal fenomenal e hoje eu sei com absoluta certeza de que não há nada de errado comigo. Sou imperfeita na tentativa de acertar. Com isso, eu só tenho medo de não ter tempo para cometer todas as outras loucuras que desejo. 

(Ita Portugal)

Aumente o volume dos bons pensamentos.

Quem é feliz não precisa provar nada, simplesmente é. Felicidade não é sobre quem grita mais alto; é sobre quem sorri mais fundo.

(Clarissa Corrêa)




Tropece, balance, mas não caia. Desmonte as coisas que não foram moldadas para você. Desfaça os nós por entre as linhas invisíveis do tempo. Se acomode na poltrona do infinito, viaje enquanto há tempo. Encontre-se consigo no cubículo da alma, se esparrame por dentro, aumente o volume dos bons pensamentos, usufrua do que te faz melhor, mais íntegro, inteiro, sem esbarrar na covardia de viver pelos cantos, ao meio, incrédulo. 

(Ju Fuzetto)

Floresci.

Cabisbaixa, pensativa, pedi aos céus que me enviassem algum sinal. Nem sempre as coisas acontecem como a gente espera, aí a gente às vezes desanima. Foi então que, num tropeço, encontrei uma frase solta num livro... "Não fique triste. Seja como o sol ao meio-dia. Floresci.
(Elenita Rodrigues)


O ontem não existe mais. O amanhã ainda não existe. Você só tem o hoje. 
Este é o dia em que Deus age.

(Max Lucado) 

Seu coração é a sua nobreza.


Eu desejo que você consiga perceber a sua força, por causa e apesar de. Que saiba que é grandioso demais para achar que não é. Eu desejo que você, antes de me contar seus defeitos, que fale sobre as suas qualidades, as essenciais, porque o material não te faz mais bonito ou menos interessante, seu coração é a sua nobreza. Eu desejo que no mundo haja mais pessoas com a sua generosidade, mas que sua percepção disso seja convertida para o seu Bem também. Desejo que você não apenas ajude, mas aprenda a pedir ajuda: se humildando na sua capacidade de dar e se permitindo receber o que é justo. Desejo que, no auge do seu cansaço, você não fuja, que simplesmente consiga chorar por um profundo respeito a si mesmo. E que deixe que o Universo te afague, que a Vida te acaricie, que um Poder Superior te ouça e dê o colo que você precisa. Eu desejo que você possa dormir quando sentir sono. E que possa acordar com a boa notícia que espera. Porque você merece comemorar mais uma vitória. Você merece sorrir com seu coração.


(Marla de Queiroz)

terça-feira, 18 de junho de 2013

O que não vier com intuito de trazer leveza.

O amor sobre(vive) da troca. Da reciprocidade. E de uma série de outros sentimentos que fazem com que ele permaneça aceso. Bonito. O amor é uma via de mão dupla.

E a gente tem mesmo é que se libertar do que nos deixa triste. Deixar de lado tudo o que não nos acrescenta. Porque o que não vier para o nosso lado com o intuito de trazer leveza, que tome o caminho de volta.
(Bibiana Benites)

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O importante pra mim.



"Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim, nem que eu faça a falta que elas me fazem. O importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível, e que esse momento será inesquecível."

(Fernando Pessoa)

. Hoje Fernando Pessoa faria 125 anos. Grande ''Pessoa''! :)

Fazer parte.



"A impressão que eu tenho é que sou óleo onde todo mundo é água: eu posso estar no mesmo lugar, mas jamais farei parte."

(Fernanda Young)

Horizontes ampliados.



Meu grande problema é o que soluciona a minha vida: sou acelerada demais, agitada demais, quero tudo pra hoje, pra agora, pra ontem. Traço metas e faço planos. Tenho horizontes ampliados e procuro me entender com o mundo.

(Paolla Milnyczul)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cazuza sempre soube.




Amor é reconstrução. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios. Demorei anos pra concordar com meu querido Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio! Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos."

(Fernanda Mello)

Que seja.

Uma casinha bonita. Um emprego que eu adore. Uma pessoa que me entenda. Um par de pés pra me guiar. E um de braços pra dias frios. Um chão pra quando meu mundo desabar. Um colo eterno de mãe. Um lugar pra voltar. Outro pra ficar pra sempre.
(Paula Andrade)




Que tenha clichê, ciúmes, malícia, sacanagem, egoísmo, afeto, loucuras, falhas, erros, acertos, perdões, beijos, abraços, pegação, sexo, amor, filme juntinho, dormir de conchinha, mãos dadas, que tenha todas as coisas do mundo, mas que seja apenas entre eu e você.
(Tati Bernardi)

Ele. Ela.


Ele odeia cebola, ela também, mas come no vinagrete. Ele não desgruda do iphone, ela não desgruda dele. Ela sonha, ele explica pra ela o peso das nuvens. Ela suspira, ele esbraveja. Ela respira, ele silencia. Ela grita, ele ri. Ele morde, ela se dói. Ela reclama, ele briga. Ele fala baixo, ela no microfone. Ela dança, ele brinca de estátua. Ela tem medo, ele brinca de esconder. Ele é durão, ela desmancha. Ela quer brincar de casinha, quer guardanapos e uma geladeira entupida de brigadeiro, ele só quer colo. Ela faz drama, ele terror. Ela inventa poesia, ele enfrenta o real. Ele disfarça que é de gelo, ela entra na fogueira. Ela chora, ele derrete. Ele tem foco, ela tem fé. Ele abrevia, ela escreve a reza toda. Ela tem pressa, ele não. Ela ensaia umas verdades, ele diz tudo na lata. Ela ama, ele idem.

(Ju Fuzetto)

A menina quebrada.


Uma carta para Catarina, que descobriu que até as crianças quebram

Era uma festa. Comemorávamos a vinda de um bebê que ainda morava na barriga da mãe. Eu havia acabado de segurá-la para que ela passasse a pequena mão na água da fonte do jardim. Ela tentava colocar o dedo gorducho no buraco para que a água se espalhasse, como tinha visto uma criança mais velha fazer. Parecia encantada com a possibilidade de controlar a água. Tem 1 ano e oito meses, cabelos cacheados que lhe dão uma aparência de anjo barroco e uns olhos arregalados. Com olheiras, Catarina é um bebê com olheiras, embora durma bem e muito. De repente, ela enrijeceu o corpo e deu um grito: “A menina…. A menina…. Quebrou”.  
Era um grito de horror. O primeiro que eu ouvia dela. Animação, manha, dor física, tudo isso eu já tinha ouvido de sua boca bonita. Aquele era um grito diferente. Não parecia um tom que se pudesse esperar de alguém que ainda precisava se esforçar para falar frases completas. Catarina estava aterrorizada. “A menina… A menina…” Ela continuava repetindo. Olhei para os lados e demorei um pouco a enxergar o que ela tinha visto em meio à tanta gente. Uma garota, de uns 10, 12 anos, talvez, com uma perna engessada. “Quebrou…” Catarina repetia. “A menina… quebrou.” 
Ela não olhava para mim, como costuma fazer quando espera que eu esclareça alguma novidade do mundo. Era mais uma denúncia. Pelo resto da festa, ela gritou a mesma frase, no mesmo tom aterrorizado, sempre que a menina quebrada passava por perto. Nos aproximamos da garota, para que Catarina pudesse ver que ela parecia bem, e que os amigos se divertiam escrevendo e desenhando coisas no gesso, mas nada parecia diminuir o seu horror. Os adultos próximos tentaram explicar a ela que era algo passageiro. Mas ela não acreditava. Naquele sábado de janeiro Catarina descobriu que as pessoas quebravam.  
Eu a peguei, olhei bem para ela, olho no olho, e tentei usar minha suposta credibilidade de madrinha: “A menina caiu, a perna quebrou, agora a perna está colando, e depois ela vai voltar a ser como antes”. Catarina me olhou com os olhos escancarados, e eu tive a certeza de que ela não acreditava. Ficamos nos encarando, em silêncio, e ela deve ter visto um pouco de vergonha no assoalho dos meus olhos. Era a primeira vez que eu mentia pra ela. E dali em diante, ela talvez intuísse, as mentiras não cessariam. Naquela noite, depois da festa, fui dormir envergonhada.  
O que eu poderia dizer a você, Catarina? A verdade? A verdade você já sabia, você tinha acabado de descobrir. As pessoas quebram. Até as meninas quebram. E, se as meninas quebram, você também pode quebrar. E vai, Catarina. Vai quebrar. Talvez não a perna, mas outras partes de você. Membros invisíveis podem fraturar em tantos pedaços quanto uma perna ou um braço. E doer muito mais. E doem mais quando são outros que quebram você, às vezes pelas suas costas, em outras fazendo um afago, em geral contando mentiras ou inventando verdades. Gente cheia de medo, Catarina, que tem tanto pavor de quebrar, que quebram outros para manter a ilusão de que são indestrutíveis e podem controlar o curso da vida. E dão nomes mais palatáveis para a inveja e para o ódio que os queima. Mas à noite, Catarina, à noite, eles sabem. 
E, Catarina, você tem toda a razão de duvidar. Depois de quebrar, nunca mais voltamos a ser como antes. Haverá sempre uma marca que será tão você quanto o tanto de você que ainda não quebrou. Viver, Catarina, é rearranjar nossos cacos e dar sentido aos nossos pedaços, os novos e os velhos, já que não existe a possibilidade de colar o que foi quebrado e continuar como era antes. E isso é mais difícil do que aprender a andar e a falar. Isso é mais difícil do que qualquer uma das grandes aventuras contadas em livros e filmes. Isso é mais difícil do que qualquer outra coisa que você fará.  
Existe gente, Catarina, que não consegue dar sentido, ou acha que os farelos de sentido que consegue escavar das pedras são insuficientes para justificar uma vida humana, e quebra. Quebra por inteiro. Estes você precisa respeitar, porque sofrem de delicadeza. E existe gente, Catarina, que só é capaz de dar um sentido bem pequenino, um sentido de papel, que pode ser derrubado mesmo com uma brisa. E essa brisa, Catarina, não pode ser soprada pela sua boca. Ser forte, Catarina, não é quebrar os outros, mas saber-se quebrado. É ser capaz de cuidar de seus barcos de papel – e também dos barcos dos outros – não como uma criança que os imagina poderosos, de aço. Mas sabendo que são de papel e que podem afundar de repente. 
Não, acho que eu não poderia ter dito isso a você, Catarina. Não naquela noite, não agora. Ao lhe assegurar, cheia de autoridade de adulto, que tudo estava bem com a menina quebrada, com qualquer e com todas as meninas quebradas, o que eu dei a você foi um vislumbre da minha abissal fragilidade. Esta, Catarina, é uma verdade entre as tantas mentiras que lhe contei, ao tentar fazer com que acreditasse que eu seria capaz de proteger você. Vai chegar um momento, se é que já não houve, em que você vai olhar para todos nós, seus pais, seus “dindos”, seus avós e tios, e vai perceber que nós todos vivemos em cacos. E eu espero que você possa nos amar mais por isso.  
Essa conversa, Catarina, está apenas adiada. Talvez, daqui a alguns anos, você precise me perguntar como se faz para viver quebrada. Ou por que vale a pena viver, mesmo se sabendo quebrada. E eu vou lhe contar uma história. Ela aconteceu alguns dias depois daquela festa em que você descobriu que até as meninas quebram. Nós estávamos na fila do caixa do supermercado perto de casa, com uma cesta cheia de compras, e havia um homem atrás de nós. Era um homem vestido com roupas velhas e sujas, parte delas quase farrapos. E ele cheirava mal. Poderia ser alguém que dorme na rua, ou alguém que se perdeu na rua por uns tempos. Ficamos com medo de que o segurança do supermercado tentasse tirá-lo dali, ou que a caixa o tratasse com rispidez, ou que as outras pessoas na fila começassem a demonstrar seu desconforto, como sabemos que acontece e que jamais poderia acontecer. Enquanto pensávamos nisso, ele nos abordou. E pediu, com toda a educação, mas com os olhos dolorosamente baixos: “Por favor, será que eu poderia passar na frente, porque tenho pouca coisa?”.  
Quando lhe demos passagem, vimos que o homem não tinha pouca coisa. Ele só tinha uma. Sabe o que era, Catarina?  
Um sabonete. Era o que havia entre as mãos de unhas compridas e sujas, junto com algumas moedas e notas amassadas, como em geral são as notas que valem pouco. Aquele homem, que parecia ter perdido quase tudo, aquele homem talvez ainda mais quebrado que a maioria, porque tinha perdido também a possibilidade de esconder suas fraturas, o que ele fez? Quando conseguiu juntar uns trocados, o que ele escolheu comprar? Um sabonete. 
Catarina, talvez um dia, daqui a alguns anos, você volte a me olhar nos olhos e a dizer: “A menina… quebrou”. Ou: “Eu… quebrei”. E talvez você me pergunte como continuar ou por que continuar, mesmo quebrada. E eu vou poder lhe dizer, Catarina, pelo menos uma verdade: “Por causa do sabonete”. 
(Eliane Brum)

domingo, 9 de junho de 2013

Os mais bonitos tesouros.

Nem sempre prevenção, é sinônimo de felicidade. Algumas vezes, o que acontece de forma inusitada, o que nos pega de surpresa, é onde a gente encontra os mais bonitos tesouros.
(Bibiana Benites)



Eu fico pensando, como pode alguém me decifrar com tanta gentileza? Como pode chegar sem ao menos estar junto e já ir desarrumando os sentimentos que eu julgava estarem tão certos?
Agora eu sou pateta.
Já andei sorrindo de novo pro vento. Eu, tão dona de mim, já não consigo mandar nessa coisa maluca que insiste em me deixar nas nuvens.
Eu, que sempre fui personagem, acabei de virar história. 

(Ju Fuzetto)


A vida abençoa.

Procure sempre, fazer o que está escrito em seu próprio coração. Permita-se acreditar no seu potencial e suas idéias, deixe sua alma transbordar o que existe de mais belo em você, e descanse em cima da tolerância. A mesma luz que você emana, é a mesma que reflete sobre você.
(Rhenan Carvalho)


Coloca um sorriso no rosto, faz alguma coisa boa para você e para os outros. Deixa a armadura num canto, joga a podridão no lixo e segue de cabeça erguida. A vida abençoa quem se trata bem e, principalmente, quem tem boas vibrações. Se o seu caminho está torto não queira entortar o caminho dos outros. Dê um jeito, se resolva, mas não queira derrubar os castelos de areia de quem te rodeia.

(Clarissa Corrêa)

O cuidado.

Sei que não sou fácil, mas você também não é. Sei que sou intolerante, cabeça dura, teimosa e quero tudo do meu jeito. Assim como você. Quando alguém é nosso espelho nos vemos no reflexo. E isso nem sempre é confortável, às vezes traz lá do fundo o que devia permanecer bem escondido. Em muitas situações o reflexo é uma pedra no sapato, uma página vazia, uma dor que nunca cessa. 


A grande questão é que de vez em quando eu preciso que me cuidem. Cansa cuidar sempre. De vez em quando é bom ficar de pernas para o ar, sem se preocupar com nada, recebendo carinho, atenção, mimo. Entenda, atenção não é estar colado. Você pode dar atenção e cuidar de quem ama mesmo de longe. O importante é saber que o outro está se sentindo cuidado. Principalmente na TPM, quando eu fico insuportável, tudo é pouco e nada é suficiente. 

(Clarissa Corrêa)



O que nos invadiu.



Tudo o que nos invadiu com intensidade, tudo o que foi realmente verdadeiro e vivenciado profundamente, não passa. Fica. Acomoda-se dentro da gente, e de vez em quando cutuca, se mexe, nos faz lembrar da sua existência.

(Martha Medeiros)

sábado, 8 de junho de 2013

Além, muito além.

O vôo até a Lua não é tão longe.
As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos.


(Charles de Gaulle)


Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos! vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A mulher ideal.



Olhando para trás, percebo que eu aprecio a originalidade. Não gosto de mulher igual às outras mulheres, por mais bonita que seja. Quem se confunde com o bando não me atrai. As pessoas têm de ter luz própria, personalidade, estilo. Defeitos, talvez. É isso que as torna interessantes e, às vezes, indispensáveis – onde você vai arrumar outra mulher como aquela se ela é única?

(Ivan Martins in ''A mulher ideal'')

terça-feira, 4 de junho de 2013

Deus me livre.



Deus me livre de gente que não entende que a beleza está na essência, que a melhor riqueza é a da alma e que as experiências amadurecem.  Gente que não sabe o valor do abraço que acolhe e da mão que aceita, da música que embala, do colo que serve de descanso. Gente que pensa que as coisas não mudam. Elas mudam continuamente. Gente que usa da vaidade que deturpa, do orgulho que afasta. Precisamos de gente que acredita na fé que fortalece e no amor que abastece, faz rir, distrai, enrosca, toca, cura, salva e tem a chance de ser maior do que a gente pensa. É essa gente que, sutil ou não, faz a diferença.

(Ita Portugal)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Impermanência das coisas.

Tenho consciência da impermanência das coisas e de algumas pessoas na minha vida. Mas, de tudo isso, trago a intensidade que eu vivo quando ainda tenho a presença destas mesmas coisas e destas mesmas pessoas. Pelo menos, quando não as tenho mais, permaneço com a sensação de inteireza quando se vão. Talvez seja o fato de que fui só afeto quando estive junto.



Ainda que lembrança me traga saudade, sorriso me faz recordar.

(Bibiana Benites)

Quando acordo sol.


Tem dias que chove cinza aqui dentro.
Em outros sou purpurina de levezas e quereres. 
Mas quando acordo sol, não tem tempo que me faça ser sombra.



Que os bons ventos voltem a fazer cócegas aqui. Na palma da minha mão.


(Bibiana Benites)

domingo, 2 de junho de 2013

Que bom que o seu amor me escolheu.

É daquelas felicidades que dá vontade de chorar, confesso. Uma lágrima boba que cai, como se quisesse dizer “que bom que você está aqui. Eu te esperei desde sempre."


(Maria Fernanda Probst)



"Que bom que o seu amor me escolheu, que bom que o seu sorriso trouxe a força." 

(Horizonte - Cláudia Leite)

Até que passe.

O problema é que tudo se acumula de um jeito torto e claustrofóbico aqui do lado de dentro e quando não dá mais pra suportar, estouro. E falo e conto e peço e tudo parece só um disco arranhado, repetitivo que – não pela primeira vez – está dizendo tudo de novo, apertando na mesma tecla, se anulando um pouco, implorando nas entrelinhas e vendo a vida passar e continuar exatamente na mesma. Então o problema é esse. E eu choro até que passe. 

(Maria Fernanda Probst)


E a gente lembra que tudo passa. A dona vida nem sempre nos ensina de forma doce e sutil. É preciso passar por situações repetidas vezes para ela ter certeza que aprendemos seus ensinamentos. Tudo é provação, aprendizado, crescimento e evolução da nossa alma. Ninguém nasce pronto, estamos aqui para cair, mas principalmente para levantar e olhar de cabeça erguida o novo dia que nos espera, a cada despertar de consciência.

(Rayana Krambeck)