terça-feira, 25 de junho de 2013

Conversa íntima.


Livrai-me dos solavancos que misturam e confundem meus sentimentos.
Dos estragos causados pelo coração endurecido.
Das tantas palavras que me leva a pensar que sou “sabida”.
De usar pouco silêncio, quando ele é tão necessário
Do tempo perdido com coisas sérias dos adultos
De anoitecer sem agradecer e amanhecer sem sorrir
De querer ser grande, sem ter sapato de salto alto suficiente
Das palavras ásperas que tanto machucam
De sentir saudade do que não tem jeito
Da solidão, com tanta gente perto
Do apego aos grãos que se dissipam facilmente
De perder tempo com o que foi perdido
Das certezas que me privam da beleza de tecer sonhos incertos
Dos carinhos econômicos por medo de se entregar
Da falta dos riscos que emocionam a vida
De todas as faltas. Da falta de coragem, da falta da música, da falta do toque, da falta de amizade, da falta de fé e de amor.
E liberta-me de usar as hipóteses do desaforo de ser normal e viver o óbvio, engaiolada nas convicções. Que eu renasça com a sensação de que sou poeta, sonhadora, louca e majestosamente viva, sem precisar me preocupar em explicar as razões disso. 


(Ita Portugal)

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