Se a nossa memória afetiva funcionasse de verdade, perderíamos menos tempo com os detalhes e prestaríamos mais atenção na essência das coisas. Histórias duram anos, meses, dias, horas ou minutos. Estágios de alegria passam mais rápido do que imaginamos. Dores são curadas, se quisermos, em espaços rápidos, com uma dose de remédio. Perdas acontecem diariamente. Ganhos também. Recomeço acontece a todo instante.
A gente perde muito tempo estacionada em garagens vazias e escuras de memórias passadas, do que vivendo o presente com seu sol ou nuvens de chuva. E a gente perde tempo recapitulando lições antigas, enquanto há lições novinhas em folha que nem foram folheadas.
A gente engancha o sapato, atola o tênis em histórias, evitando o fluxo normal do tempo. Supervalorizamos o que se foi, e esquecemos o que virá. E vem, pode apostar. Vem para todo mundo.
Geralmente nos apegamos em vírgulas, que representam tão pouco, enquanto deixamos as frases inteiras a revelia. É o pedacinho, o fragmentozinho que nos incomoda. A comida ficou perfeita, mas o prato era meio velho. O vestido é lindo, apenas é amarelo, cor que não simpatizamos.
As margaridas estão todas abertas no jardim, mas o dia lá fora chove.
São os detalhes, farelos pequenos, ridículos, que alteram o nosso modo de viver. Nosso olhar microscópico enxerga os farrapos, enquanto o sol continua brilhando.
Somos capazes de deixar, um tropeção causar ardor no nosso dia. Somos capazes de não enxergar com nitidez o jeito bacana que a vida olha para nós.
(Ita Portugal)
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