terça-feira, 23 de julho de 2013

Rolo sem fim.



A gente vivia num rolo daqueles sem fim. Bom, não sei se era esse o nome, sei que era uma parada sem explicação e com todas as razões para ser algo fabuloso e com o nome predileto que tanto falava as canções românticas. 

Tudo teria uma cor forte, se ele permitisse um nome. Era o que eu queria. Um nome para desenterrar minhas dúvidas, que rondavam minha cabeça como borboleta a procura de manjar no verão. Um nomezinho na agenda telefônica. Algo bem pequeno e discreto que despertasse suspeitas de ombros juntos. Que justificasse nossos domingos enfeitados de primavera. E não é que eu exigisse um passaporte para a mudança de estado civil. Não era por ai. Eu desejava era saber se o macarrão das noitadas combinava mesmo com o molho. Algo me dizia que sim, mas vez ou outra eu precisava ver se nossa matemática tinha o mesmo resultado. 
Era concreto como o vaso de flores do meu aniversário e a mensagem carinhosa no meu celular. E tinha forte tendência a combinações bonitas de rosa e azul. Só não tinha nome. 
Viver em um paraíso sem a eternidade de um nome, isso não combinava comigo. Nosso papo era bacana. Nossa música era a mesma. Então para completar eu reclamava por uma decisão tipo “vender pastel ou sair da feira”. Rascunhei alguma coisa no papel e disse na lata- acho bom você se definir. Cara, você precisa ser alguma coisa. 
Seja tu, eu, nós, vós. Qualquer coisa simpática. Seja de qualquer jeito, em qualquer lugar, qualquer tempo. Um amor, um sentimento, uma loucura. Um céu, um oásis, uma pedra no sapato, uma música romântica, uma novela de amor, um furacão de paixão, um estoque de sentimentos, santo, anjo, ou alguma coisa perigosa. Um tudo, um nada, uma fantasia de carnaval ou qualquer coisinha desta, mas não deixe de ser. Não deixe de ter um nome, casa, vaga na garagem, prestações para pagar. Dê nome aos bois e a ninhada também. Identifique suas vontades. Decida suas verdades. Resolva entre o café rápido, a pizza semanal ou o almoço de todo dia. 
Resolva onde quer guardar seu cachecol. Essa era a conversa cotidiana e enfadonha eu sei, mas eu Maria, precisava saber melhor sobre o meu José. Justo, simples e prático. Eu precisava saber se poderia continuar gastando minhas energias e iria receber de volta uma pirâmide bruta incrustada de felicidade. Faz sentido minha aflição, pelo menos eu pensava que sim. 
Sem essa de fazer de conta que é feliz e uma penca de outras bobagens, pagando um preço alto em um investimento que não merece um sorriso. Falei, Indiquei. Perguntei. Cobrei as palavras mágicas agrupadas e cintilantes traduzindo meus motivos para cantarolar as ultimas românticas no chuveiro. 
As interpretações de confiança e credibilidade vieram com um duvidoso sim e um gesto simples demais mostrando que dei valor demasiado numa pedra pontiaguda de um lado e escorregadia do outro que não valia minha sentença afetiva. Ele pertencia ao grupo dos confusos e discretos que divagavam sobre sentimentos sem, contudo sentir. 
Perguntei. Interpretei e me danei. 

(Ita Portugal)

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