Minhas mãos suavam, eu nem sou um cara tímido, mas, porra, eu tremia feito um moleque de 15 anos.
Chegou derrubando as coisas na poltrona, sorrindo um quilometro e meio de covinhas. Sem querer, memorizei as curvas do seu sorriso em minhas pupilas, guardando calorosamente aquele semblante de moça simples, que de tão delicada, parece quebrável, de louça. Não, eu queria tocar nela, não de um jeito que machucasse, mas queria poder encostar nas suas costelas, de um jeito que a surpreendesse e que a fizesse querer morar no meu abraço.
Logo eu, colecionador de conquistas e beijos roubados. Logo eu, porra, sendo arrebatado pela esquisitice doce dessa moça tão normal. Não, ela não parecia normal, cacete, ela parecia de outro mundo, olhava para o telão como se eu não existisse. O filme era comédia romântica, dessas água com açúcar, bem doce, sabe?
A moça não me olhava e, nossa, ensaiei meu melhor sorriso, minha fala de Don Juan, mas a pequena ao lado parecia vacinada. Ela estava imune ao meu olhar de moço babão, embriagada na sua completude surreal, estava armada até os dentes contra galanteadores da minha espécie.
Quando o filme acabou, esperei ela se levantar da poltrona disfarçando meu encantamento, mas o cinema esvaziou bem rápido, enquanto ela apanhava a bolsa, a sacola e o livro, o mundo girava lento, bem lento pra mim. Girava tão devagar que nem vi quando ela saiu, tentei correr pelo corredor vazio, mas aquele corpo magro e aparentemente frágil já não estava mais ao meu alcance.
Abaixei a cabeça com raiva de mim, deixei que a pequena se perdesse, antes mesmo de tê-la encontrado e eu sabia que seria ela que uma hora, ou outra, alguém como ela, exatamente igual a ela, arrancaria de mim a máscara de conquistador barato.
Pé ante pé, fui seguindo cabisbaixo, olhando ao redor, com cuidado procurando um olhar que me desviasse o pensamento, mas nada era tão acolhedor quanto aqueles olhos de café com leite, que em poucas horas me deram o que muitos corpos, com seus suores, curvas e saliências não puderam me dar. É, o amor mora logo ali, não vem nú, nem alfabetizado. A gente o veste no corpo, sem saber a sua língua, sem poder provar o gosto do seu idioma, mas sabe que hora, ou outra falará somente a língua dos anjos. E se, por acaso, novamente cruzar com ela, vou pedir um replay com direito a cinema mudo. Eu não falo, nem ela, no telão nós dois, filme pra vida inteira, inteirinha.
(Ju Fuzetto)
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