“Filho da puta!” foi o que pensei. Instantaneamente, impulsivamente. Ele virou o rosto pela terceira vez e, por segundos, cogitei a hipótese de ter pensado alto demais, mas logo ele voltou a caminhar, cheio de si, como todo e qualquer filho da puta com quem dividi a cama. E lá se vai ele porta afora, vestido com sua camada de orgulho e beleza estupenda. Filhooooooo, engoli em seco o restante. Ele apenas olha para trás, olhos cinzentos, cobertos de raiva e alucinação. Excitante. Bate a porta.
Eu me enrosco num lençol branco e acendo outro cigarro. O quarto tem o cheiro do perfume dele, tem o cheiro do suor dele e eu preciso esbaforir qualquer coisa para mesclar esse perfume de sexo. Deixo a fumaça do cigarro me queimar por dentro, juntamente com o resto da inocência que me sobrou. A porta se abre vagarosamente, ele caminha suavemente na minha direção. Trago, urgentemente. Meu pensamento pede que ele se afaste, que carregue para longe toda a perdição que se aloja entre nós. Engulo em seco, ele está perto demais, a barba dele quase acaricia minha bochecha, quero sair, quero ficar, quero gritar.
Ele me dá seu melhor sorriso lacônico e respira na base de meu pescoço. Beija-me suavemente sobre a clavícula, fazendo-me estremecer inteira. Eu suspiro como quem implora e volto a tragar meu cigarro com comportada malícia, mergulhando os meus olhos de ressaca nos seus de predador. Ele ri, irônico. Dá as costas e bate a porta. Outra vez.
(Ju Fuzetto e Maria F. Probst)
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