segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

seus olhos.



Eu nunca acreditei na solidão dos seus olhos, que são dois. Eles não veem a responsabilidade que têm ao carregar você. E se um chora, o outro, ali do lado, abafa o choro, e mesmo sem saber falar, encontra palavras de conforto; e mesmo sem mãos, sem lenço: eles se entendem. Seus olhos não poderiam pertencer a nenhum outro rosto. Só você pode fechá-los quando o medo de encarar o amor se aproxima. Só você pode abri-los quando esse mesmo medo vai embora, dobra uma esquina qualquer se some em algum lugar bem distante do seu campo de visão: você não pertence a ninguém.
Eu pertenço ao seu mundo não porque sou seu, mas porque seus olhos me entendem. Confesso: invejo-os: só eles podem te ver dormir sem te acordar, e observar seus sonhos sem sair de dentro do seu mundo: sem sumir de você. Infelizmente, nunca te tive. Não precisei. Você sempre conviveu e se manteve tão bem aqui: na minha imaginação. Sonhada e protegida pelas minhas mãos que não te tocam: não porque não querem: porque não podem. Só eles conseguem te ver por inteira: como um mirante, no porto seguro do seu coração. Ou talvez um farol que ilumina o mar negro – ora calmo, ora agitado – onde as ondas mais violentas escolhem as praias mais distantes, talvez suas mãos, para quebrar sem ninguém perceber. Tenho certeza que essas ondas são amores que se encolhem por medo de não serem grandes o suficiente para suportar a dor da conquista. Os amores são sempre frágeis. Os amores serão sempre dóceis. E seus olhos imóveis, naquela manhã, moveram o mundo para você despertar, todas as outras manhãs, no meu.


(Antes de você abrir os olhos - parte II, Antônio)

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