quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O trem da vida.



Aqui estou eu, mais uma vez em pé parado na estação, na mão esquerda minha maleta, aprendi desde pequeno que um homem de verdade sempre carrega a maleta na mão esquerda, pois assim a mão direita estará sempre livre para cumprimentar as pessoas, é uma espécie de etiqueta para o bom convívio. Gravata, paletó impecável, sapato engraxado, bigode bem aparado, chapéu na cabeça, sim desta vez estou pronto.
Retiro meu relógio do bolso e confiro a hora, é desta vez ele está atrasado, isso não é normal de acontecer, mas sou paciente e não tenho pressa. Olho para os trilhos até perdê-los de vista, a impressão é que realmente duas paralelas se encontram no infinito, fico pensando o que me aguarda por detrás daquelas montanhas verdes e vou viajando com meus pensamentos, vagando com meus sonhos loucos [...] momento em que sinto o chão tremer levemente, é, ele está chegando, posso ver a nuvem de fumaça que sobe ao fundo, e o apito, ah esse som é inconfundível!
Ao perceber que o trem se aproxima da estação, uma palpitação toma conta do meu coração, um calafrio congela minha alma, tudo fica em câmera lenta e um silêncio ensurdecedor toma conta de mim, somente escuto as batidas do meu coração, cada vez mais fortes, isso é um tormento. Desequilibro e encosto-me a uma pilastra, retiro o chapéu da cabeça, estou suando frio mais uma vez. Deixo minha maleta escorregar levemente pelos meus dedos, e lentamente ela cai ao chão, cai tão suave que ninguém percebe, deixo o chapéu em cima dela e ponho as duas mãos no rosto, olho para o céu e me pergunto, por quê?  É tão difícil entrar nesse trem? O que me prende a este lugar, o que não me permite saber o que tem por detrás daquelas montanhas?
O pior de tudo é que essa é uma guerra pessoal, sou eu contra mim mesmo, e este é o inimigo mais forte que podemos encontrar, pois sabe todos os nossos pontos fracos.
Olho para as portas do trem, uma linda senhorita ao subir os degraus olha para trás e sorri para mim, um sorriso encantador, acho que foi o mais belo que já em toda minha vida, disfarçadamente ela olha para outro lado e entra. E eu o que faço? Nada continuo imóvel, paralisado pelo medo, suando frio, tomar decisões nunca foi o meu forte, sou o tipo de pessoa que deixa a vida decidir por mim, talvez nem seja um homem de verdade.
Um apito forte me faz voltar ao mundo como um tapa na cara, os movimentos já não são mais em câmera lenta, o barulho das pessoas indo e vindo, conversando, subindo no trem tomam conta de todo o ambiente, é, ele partirá em um minuto e eu ainda não sei o que fazer, apenas observo, inerte.
Cada trem é único nesta estação, uma vez perdido jamais terá a chance de pega-lo novamente. Meu Deus! Quantos trens já perdi? Quantos lugares, pessoas, emoções deixei conhecer e sentir, tudo por ter medo, por ser fraco! Sei que perco muito pelo medo de perder [...] mais um apito, ele está prestes a partir e eu ainda não me decidi.
(Baldur Lux)

5 comentários:

  1. Já li umas 10 vezes, imagino todas as cenas acontecendo!!!

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  2. Uma maria fumaça, legal demais!!! =)

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  3. Nunca se sabe,há males que vem para bem, talvez entrar nesse trem poderia ser uma das maiores idiotices que você faria na sua vida. Pense nisso!

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  4. Sou encantada com esse texto!
    Na vida, somos movidos por escolhas... E como nem sempre sabemos o melhor para nós, a opção que ficou para trás sempre deixará uma dúvida. "Entrar no trem" poderia ser bom, ou não.. como tudo na vida! Infelizmente não podemos experimentar os dois lados..

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