Aqui
estou eu, mais uma vez em pé parado na estação, na mão esquerda minha maleta,
aprendi desde pequeno que um homem de verdade sempre carrega a maleta na mão
esquerda, pois assim a mão direita estará sempre livre para cumprimentar as
pessoas, é uma espécie de etiqueta para o bom convívio. Gravata, paletó
impecável, sapato engraxado, bigode bem aparado, chapéu na cabeça, sim desta
vez estou pronto.
Retiro
meu relógio do bolso e confiro a hora, é desta vez ele está atrasado, isso não
é normal de acontecer, mas sou paciente e não tenho pressa. Olho para os
trilhos até perdê-los de vista, a impressão é que realmente duas paralelas se
encontram no infinito, fico pensando o que me aguarda por detrás daquelas
montanhas verdes e vou viajando com meus pensamentos, vagando com meus sonhos
loucos [...] momento em que sinto o chão tremer levemente, é, ele está
chegando, posso ver a nuvem de fumaça que sobe ao fundo, e o apito, ah esse som
é inconfundível!
Ao
perceber que o trem se aproxima da estação, uma palpitação toma conta do meu
coração, um calafrio congela minha alma, tudo fica em câmera lenta e um
silêncio ensurdecedor toma conta de mim, somente escuto as batidas do meu
coração, cada vez mais fortes, isso é um tormento. Desequilibro e encosto-me a
uma pilastra, retiro o chapéu da cabeça, estou suando frio mais uma
vez. Deixo minha maleta escorregar levemente pelos meus dedos, e
lentamente ela cai ao chão, cai tão suave que ninguém percebe, deixo o chapéu
em cima dela e ponho as duas mãos no rosto, olho para o céu e me pergunto, por
quê? É tão difícil entrar nesse trem? O que me prende a este lugar, o que
não me permite saber o que tem por detrás daquelas montanhas?
O
pior de tudo é que essa é uma guerra pessoal, sou eu contra mim mesmo, e este é
o inimigo mais forte que podemos encontrar, pois sabe todos os nossos pontos
fracos.
Olho
para as portas do trem, uma linda senhorita ao subir os degraus olha para trás
e sorri para mim, um sorriso encantador, acho que foi o mais belo que já em
toda minha vida, disfarçadamente ela olha para outro lado e entra. E eu o que
faço? Nada continuo imóvel, paralisado pelo medo, suando frio, tomar decisões
nunca foi o meu forte, sou o tipo de pessoa que deixa a vida decidir por mim,
talvez nem seja um homem de verdade.
Um
apito forte me faz voltar ao mundo como um tapa na cara, os movimentos já não
são mais em câmera lenta, o barulho das pessoas indo e vindo, conversando, subindo
no trem tomam conta de todo o ambiente, é, ele partirá em um minuto e eu ainda
não sei o que fazer, apenas observo, inerte.
Cada
trem é único nesta estação, uma vez perdido jamais terá a chance de pega-lo
novamente. Meu Deus! Quantos trens já perdi? Quantos lugares, pessoas, emoções
deixei conhecer e sentir, tudo por ter medo, por ser fraco! Sei que perco muito
pelo medo de perder [...] mais um apito, ele está prestes a partir e eu ainda
não me decidi.
(Baldur
Lux)
Já li umas 10 vezes, imagino todas as cenas acontecendo!!!
ResponderExcluirTbm consigo imaginar.. ;)
ExcluirUma maria fumaça, legal demais!!! =)
ResponderExcluirNunca se sabe,há males que vem para bem, talvez entrar nesse trem poderia ser uma das maiores idiotices que você faria na sua vida. Pense nisso!
ResponderExcluirSou encantada com esse texto!
ResponderExcluirNa vida, somos movidos por escolhas... E como nem sempre sabemos o melhor para nós, a opção que ficou para trás sempre deixará uma dúvida. "Entrar no trem" poderia ser bom, ou não.. como tudo na vida! Infelizmente não podemos experimentar os dois lados..