O caso é que começa a doer. Antes era só fantasia, e eu ficava feliz por sonhar. Era sustentável, pois podia imaginar, e nesses termos, podia realizar também. Era, então, completa. Porque não havia dor: era só o amor ilusório nutrido por uma esperança descabida.
Mas agora eu quero mais. Há agora uma necessidade maior. Maior que qualquer coisa: eu quero mesmo é tudo.
Dá medo, não nego. Parece que estou me excedendo, soa como traição. Mas meu ato não é de forma alguma leviano. Egocêntrico, talvez. E pouco importa isso.
Claro que o medo e a vergonha difundem-se em minha alma formando obstáculos impetuosos, e que eu me encolho toda por dentro ao enxergar a minha fome supérflua. Mas tenho esse direito, acredito.
Posso querer mais, não por luxúria, sim por amor mesmo. Inclusive, é de amor que falo. O amor fez-se necessidade em mim, apesar de sua ausência contínua e da ligeira impressão de um sonho remoto, ou devaneio diário que tenho antes de dormir e me dar conta. Mas então me dou conta, e sumo por inteiro. Talvez seja eu o desvario, e não o amor. Ou sejamos ambos a mesma coisa. Sendo assim, não somos fictícios, já que sinto minha pele arder frequentemente. E se somos o mesmo, o mesmo vale para os dois.
O meu amor é real, e não aceito que me neguem isto.
Estou disposta a buscá-los. O amor, de todas as formas, a paz de espírito e aquele tudo redundante que ressoa nos desejos já ditos.
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