Outra noite eu estava viajando pela Fernão Dias
quando resolvi parar em um posto de gasolina - aqueles que tem um pouco de tudo,
restaurante, vendinha, etc – ao terminar meu pitstop e deslocar-me até o carro,
escutei bem baixinho o som de uma gaita e mais do que depressa tentei
identificar a origem, parece que vinha de um beco escuro entre o restaurante e
a borracharia, não contive a minha curiosidade e desprezando todos os riscos
resolvi entrar no tal beco.
Percebi o semblante de alguém
sentado ao chão, e para evitar qualquer surpresa foi logo me anunciando:
_Opa!
A pessoa virou-se para a minha
direção e prontamente respondeu:
_ Salvem os loucos de todas as
espécies, malucos de todos os gêneros!
Confesso que quis sair dali o
mais rápido o possível, no entanto já não dava mais tempo, quando menos percebi
estava de frente com um senhor idoso, longas barbas brancas, cabelos compridos,
usando uma espécie de jaqueta feita de saco, nas costas uma mochila militar
verde oliva, o senhor ficava me olhando de cima em baixo , e assim como um
passe de mágica ele quebrou todo esse clima desagradável esticando o braço
apontando para uma muretinha:
_ Bora sentar e dar um dedinho
de prosa?!
Convite irrecusável este, já
fui logo perguntando qual era o nome do senhor, ele respondeu algo que eu
entendi como Berelê, mas não era isto era simplesmente BR, isso mesmo BR em
alusão às estradas que cortam o Brasil de fora a fora.
Conversamos sobre todos os
tipos de assunto, o BR já havia passado por todos os estados brasileiros, e até
outros países “Argentina, Venezuela, Paraguai, etc” sempre de carona e na maioria
das vezes caminhando mesmo, segundo ele “Sou movido pelo pó da estrada,
esse é o meu combustível, a razão do meu viver, ela gruda em meu rosto, ah o pó
da estrada!” Confesso que logo lembrei do Sá, Rodrix e Guarabira, e suas
majestosas canções de estrada.
Me despedi do BR com aquele
pesar no coração, um senhor de idade, sozinho largado no mundo, todas as suas
posses dentro de uma velha mochila e o mais impressionante, feliz, satisfeito,
não escutei uma reclamação sequer durante nossa conversa de mais de 2 horas, e
eu com todas as facilidades do mundo moderno me senti infinitamente involuído e
pobre de espírito.
Quando estava indo embora
escutei um grito:
_Essa é pra você Doutor!
Ao fundo começou a tocar na
gaita a música Free Bird do Lynyrd Skynyrd, velho danado, prestou a
atenção quando eu disse que gostava muito de Skynyrd.
(Baldur Lux)