Eu preciso aprender a ser menos. Menos dramática. Menos
intensa. Menos exagerada. Alguém já desejou isso na vida: ser menos? Pois é.
Estranho. Mas eu preciso. Nesse minuto, nesse segundo, por favor, me bloqueie o
coração, me cale o pensamento, me dê uma droga forte para tranqüilizar a alma.
Porque eu preciso. E preciso muito. Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o
volume, andar na velocidade permitida, não atropelar quem chega, não
tropeçar em mim mesma. Eu preciso respirar. Me aperte o pause, me
deixe em stand by, eu não dou conta do meu coração que quer muito. Eu
preciso desatar o nó. Eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos, sofrer
menos ainda. Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase? Confesso:
eu não consigo.Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é
pouco, não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama. E eu
vou... Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida, a
coragem e o medo, mas vou... Não digo: "estou indo", não digo:
"daqui a pouco", nada tem hora a não ser agora. Existe aí
algum remedinho para não-sentir? Existe alguma terapia, acupuntura,
pedras, cores e aromas para me calar a alma e deixar mudo o pensamento? Quer
saber? Existe. Existe e eu preciso. Preciso e não quero.'
(Fernanda
Mello)
'Eu que me
aguente comigo
e com os comigos
de mim.'.
(Fernando
Pessoa)
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