Benditos os que
conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas
resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido
contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o
melhor que podem. Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos
mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à
sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É
uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir
tanto? A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que
responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato
favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se
autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de
opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso.
(Martha Medeiros, no livro “Ser feliz por
nada”)
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