Quando criança, ela dormia com a luz do quarto acessa, isso faz algum tempo, hoje em dia ela se pega acendendo a luz no meio da noite, como se ainda existisse uma garotinha precisando respirar pela fresta expelida do velho abajur cor de maçã.
Ela sabe que não é nada fácil crescer, expandir num corpo que antes, diminuto, se repelia com medo dos monstros imaginários e hoje é atacado por centenas de devaneios que a mantém acordada. Antigamente ela podia correr pro quarto dos pais assustada, agora já não pode. Neste estágio de mulher balzaquiana, corre pra fora de si, num salto oculto que faz pose ao cair em universos nada planos, escamosos e complexos.
Ela acha complicado entender que já não tem o escudo da infância deitado ao seu lado, não possui brinquedos, ou urso de pelúcia pra se apegar, então se agarra no amanhecer catastrófico. Faz café para brincar de cartas com a insônia, repete a contagem dos carneirinhos, briga com eles feito gato e rato. Reclama com as paredes e escreve sobre as crises internas, medos que congelam os olhos numa vontade de gritar: _ Me Socorre, sou criança ainda. Olhe para mim. O que você vê?
Ela não admite que as pessoas tomem como base a sua cara pálida, nem quer que vejam o seu coração quente, ou que percebam que as suas mãos são geladas como se tivessem acabado de sair de um freezer. Não quer o espanto quando conta uma história bonita e depois se desmancha em lágrimas e soluços infantis.
Inadvertidamente, está sendo a criança fofa de outrora e, mais tarde, quando a noite vem contornar a lua, lá está ela, novamente presa num conto, com lápis e papel na mão, pinta estrelas, num giro vira a noite, um gole de café outro de devoção, mais um blefe e a falta de sono vira canção.
(Ju Fuzetto)
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