Quer me conhecer? Me encontre naquele romance antigo, segundo
parágrafo, mostrando que a solidão não deve se atravessar a sós. Talvez eu
possa – e isso é quase certo – me mudar pros tons daquela bela música e por lá
ficar: “feita de luz mas que de vento”. Alguns artistas – e nisso incluo poetas,
músicos e demais sonhadores – parecem conhecer a fundo a alma humana. Quando
falam de si, mostram um pouco também de nós. Quem nunca pensou, ao menos por um
segundo: essa canção foi feita pra mim? Eu já me apropriei de centenas de
músicas, que dizia serem “minhas”. Naquele momento, elas – e só elas – pareciam
entender o que eu sentia. Letra por letra. Rima por rima. Em cada nota, um
espanto. E uma sensação de pura comunhão com o mundo: é, eu não estou sozinha.
A arte também foi feita pra unir. Pra protestar. Para seduzir. Por isso, passo
a vida escrevendo. Lendo. Garimpando frases. Buscando o verso certo. A estrofe
perfeita. Ou um conhecimento maior sobre mim mesma. Se estou conseguindo? Não
sei. A arte nem sempre é bondosa. Um dia nos pega no colo e, no outro, nos faz
enxergar o que ainda é difícil de ver. Mas tudo bem. Enquanto houver um poema
pra nos consolar e uma boa canção pra nos comover, “a gente vai levando”.
(Fernanda Mello)
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