Sobre todos aqueles que continuam tentando, Deus, derrama teu
Sol mais luminoso. E porque
tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa. E principalmente
porque resolvi chamar a atenção de Deus para algumas coisas. Não que isso possa
acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar
o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às
vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.
Deus, põe teu olho amoroso sobre todos que já
tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os
telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável
sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em
playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou
daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos
se verem - nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos
tão humano quanto uma mesa.
(Caio Fernando Abreu)
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