quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Derrama teu sol mais luminoso.



Sobre todos aqueles que continuam tentando, Deus, derrama teu Sol mais luminoso. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa. E principalmente porque resolvi chamar a atenção de Deus para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal. 
Deus, põe teu olho amoroso sobre todos que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem - nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa. 

(Caio Fernando Abreu)

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