terça-feira, 25 de março de 2014

Seletiva.



Sinceramente, sou seletiva. Não me apaixono só porque o cara é filho da puta. Além dessa prerrogativa, ele tem que ser carinhoso, charmoso, sedutor e original. Pode ser inclusive um sujeito embaraçoso, embaraçado, sem necessariamente andar em desalinho e não me tratar como camarada nas bebedeiras de fim de noite no bar encardido da esquina perigosa. 
Se resmungar, que seja pela falta de minha presença. Sou seletiva também no quesito trivialidades. Pode fazer bobeiras, desde que sejam suportáveis. Pode e deve gostar daquela preguiça aguda de final do dia, principalmente aos domingos. Se roncar, que seja silencioso. Se fugir, que volte no final do dia. Se tiver como prioridade a avareza, que seja para dizer não.
Eu me apaixono por esses tipos revolucionários, indecentes, descarados na alma. Que enfrentam suas crises adiando as angústias, as perguntas, e experimentam de primeira os mergulhos nos improváveis. 
Apaixono-me pelos errados, uma vez que os certos estão em extinção. E se o sujeito possuir tendências para pular do cotidiano, para os atalhos, ganha-me sem direito a devolução.
Gosto dos idiotas sensacionais que compõem trilhas sonoras românticas e combinam andar descalços pelos ladrilhos pontiagudos para provar os perigos iminentes de amar sem restrição. Se for apressado para as fantasias, dispensar os protocolos e trouxer a primavera na bandeja do café da manhã, será imperdoável não amar esse sujeito.
Sinceramente, no amor, gosto de quem tira coelhos da cartola e brinca de faz-de-conta, mas pleno das habilidades mentais não desperdiça um lance para fazer declarações precipitadas de amor e algumas metáforas promocionais. 
Me encanta quem não possui roteiro e faz badernas emotivas por qualquer falta na relação. Seja falta de afeto, falta de abraços, amasso, tempo.
Os repetitivos tem prioridade em desperdiçar o seu tempo comigo. Gosto de quem se repete, escreve, publica, declara o que está além de sua compreensão, apenas para não deixar o afeto passar impune. Inventam o faz de conta do para sempre nesse exato momento.
Sujeito encantador, fala sozinho ou acompanhado e deixa escapar a sanidade por pura falta de interesse em coisas bem traduzidas, cuidadas e desvendadas. Sou envolvida pela dose e meia de loucura e frescura. E dou nota máxima para o aconchego que faz milagre nas rachaduras da solidão. 
Amor sacana e bacana é aquele que nunca esfria e nem pode ser requentado à meia noite. Sujeito cheio de lero-lero, especialista em perder-se lentamente na irracionalidade dos gostos, arroubos seletos e nas grades do afeto, certamente fará a composição do meu ritual de felicidade tola. Esse é dos meu! 
O sujeito sacana e bacana, chega esmigalhado de promessas tolas, furacões controláveis, voos multicoloridos e horizontes avermelhados de ternura. Fico fascinada por quem tem a habilidade de me fazer acreditar nas mentiras, desde que sejam sinceras e realizem sonhos a dois. Quem oferece as estrelas desenhadas em papel e tropeça a procura da borboleta imaginária, convertendo a ilusão numa loucura aprazível. Sujeito digno de um amor sacana, é aquele que liberta a sua feiura interior, faz virar pó qualquer adereço indigno das carícias amorosas e faz você acreditar que vale desperdiçar a vida. Alarga o coração e faz um espetáculo plugado aos bons pensamentos. Consome sobriedade, mas galopa na irônica ilusão de felicidade.
Nem faço exigência, desde que seja assim: sem qualquer futuro promissor, apenas o sujeito de meu amor. 
Conte-me se isso acontecer contigo.


(Ita Portugal)

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