A
gente faz as contas, projeta uma vida na outra, tenta se enxergar como se fosse
outra pessoa… A gente busca espelhos porque viver é solitário. Busca simetrias
porque a vida é torta. A simetria acalma. Talvez acalme porque nós mesmos
somos simétricos. Uma linha imaginária, dos pés à cabeça, nos divide em duas
partes iguais. Buscamos o que já somos? Será? Esquecemos que esta simetria
nunca é perfeita.
Para
o bom observador sempre haverá uma perna mais curta, um olho mais caído, uma
narina mais aberta...
Certo
é que nossa mente busca simetria nas pinturas, nas catedrais e nas notas
musicais. Entre passado e futuro, entre os óculos do John e o olhar do Paul,
entre Beatles e Stones, nas cores da barba e do cabelo, assim no céu como na
terra, assim na serra como no litoral. Entre mãe e pai, pai e filho, num par de
filhos, a gente idealiza simetrias que não existem. Buscamos fatos que se
repitam, uma ordem, um sentido, um padrão, um padrão, um padrão... Um padrão
que não há.
O
mundo é ímpar, não dá para dividi-lo em duas metades iguais.
(Humberto Gessinger em “Nas Entrelinhas do Horizonte”)
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