terça-feira, 29 de abril de 2014

Lucidez brilhante.

Sentava-se na varanda diariamente, num ritual marcado, para conversar com seus sonhos. Ao longe as pessoas podiam vê-lo dialogando sozinho e o pensavam louco. Certeiramente, claro. No entanto, sentia-se feliz por saber que dentro de sua loucura existia um manto de lucidez brilhante. 
Tinha uma beleza extraordinária: era tão deslumbrante que se via deformado, como se o belo em demasia também fosse a própria feiura. E talvez fosse.
Falando consigo mesmo, jorrava de sua boca toda a ternura que era incapaz de lançar ao mundo. Ficou conhecido como o rapaz dos fantasmas. Durante muitos anos foi visto na mesma varanda, repetindo frases inteligíveis e cheias de amor. 

Até que tudo terminou disfarçado de tristeza no silêncio que o vestiu. 

(Tiago Fabris Rendelli)

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