(...)
Amores virão depois das paixões,
palavras
certas sempre virão depois das erradas,
a
resposta certa virá quando o ato errado foi cometido,
televisões novas estragam e garantias são
perda de tempo,
o
telefonema mais esperado irá chegar
enquanto
estamos tomando banho
com o rádio no último volume,
as
cartas não chegam, nem os e-mails,
nem
a esperança, as taças caras quebram como
os
copos de extrato de tomate,
analfabetos ganham o país e
poemas
de Alice Ruiz passam sem aclamação.
Começar pode ser aos 17. Pode ser aos 30.
Pode
ser aos 85.
Começar
pode ser ao som de Marvin Gaye
ou
no apaixonar de Chico.
Debaixo
de uma mangueira,
debaixo
de uma chuva torrencial.
Começar
em Porto Alegre,
pousar
em Curitiba, recomeçar na Avenida Paulista,
dormir
no braços de Cristo e
"passar
uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã,
ouvindo o mar de Itapuã...".
Começar é de repente perceber que já
se
está na metade do caminho.
Começar
é dar mais valor ao tempo
que
temos e descobrir como é uma tortura
o
tempo que não temos.
Começar
é dar possibilidade de que
alguma
coisa aconteça aqui ou em Amsterdã.
O
beijo é o começo do amor.
O
amor é o começo do plano.
O
plano é o começo do caos.
O
caos é o começo da família.
A
família é o começo dos herdeiros.
Os
herdeiros são o começo do futuro.
E
o futuro já não é mais
tão
perto e nem tão para a gente.
O
futuro, aparentemente é o fim que nos espera.
Espera
para começar.
(Cáh Morandi)