terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ela.


(...) Nos dias de sol ela parece ter oito anos. Pula, brinca e sorri como uma menininha do maternal, longe de toda maldade e preocupação do mundo. Nos dias de TPM parece ser uma senhora de oitenta e três anos com tendências “vampirísticas” - foge de qualquer claridade e se emputece com qualquer ruído mínimo que possa entrar em sua cabeça como uma bomba relógio.

Ela é morena, tinha cabelos negros curtos que eu adorava. Ama os felinos e tem a pele branca como uma folha de papel virgem. Queria escrever poesias nela - daquelas com rimas bonitas e frases bem encaixadas. Poetas passariam anos tentando encontrar a melhor maneira de descrevê-la. Canta suas frases felizes quando tem vontade. E se cala como uma pedra muda quando tem vontade, também.

Ela veste tênis geralmente. Mas mesmo assim consegue ser meiga e doce. Cerveja é seu suco predileto e sente fome quando está alcoolizada. 

Escolhe a cor da caneca do chá de acordo com o clima. Cada caneca tem sua função específica neste mundo. E se o ano tem quatro estações, ela é sempre primavera. Ama as flores como se fossem suas filhas e faz da natureza sua mãe mais sagrada.

Em um único parágrafo – ou em cinco minutos de conversa – diz quatrocentos assuntos diferentes. Sem pontos, vírgulas ou pausas. Às vezes, eu me sinto burro, com dezesseis anos de idade assistindo a uma aula de revisão de química – aquelas na qual a gente pisca o olho e o quadro negro já está lotado de fórmulas esquisitas. Queria ser químico para entender algumas coisas sobre ela. Ou psicólogo, não sei.

Mesmo assim, ela é divertida como nenhuma outra. Me faz sorrir sem esforço algum – apenas sendo como ela é, sem maquiagens, encenações ou algo assim. Ela encanta sem saber e sem querer. 

Ela é leonina, daquelas que têm orgulho dos seu signo. Mas não segue à risca das dicas do horóscopo. Tem uma queda por um meditações e ensinamentos indianos. Queria saber o que ela enxerga toda vez que fecha os olhos e viaja pelo mundo. Vez em quando, quero ser telepata, também.

É difícil e odeia falar ao telefone. Pode soar grosseira nessas ocasiões. Costuma ter insônias quando está ansiosa.

Ela não irá aceitar casar com você de primeira. Nem na segunda tentativa. Talvez, nem no quinquagésimo oitavo pedido. Mas se eu fosse você, insistia. Ela desconversará com risos em caixa alta e embora não diga “sim”, percebo que o sorriso dela vale mais do que essas três letrinhas quaisquer.


(Hugo Rodrigues)

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