Não existe
justiça no amor.
O amor não é
censo, não é matemática, não é senso de medida, não é socialismo.
(...)
O amor não é
democrático, não é optar e gostar, não é promoção, não é prêmio de bom
comportamento. O melhor para você é o pior. Aquele que você escolhe
infelizmente não tem química, não dura nem uma hora. O pior para você é o
melhor. Aquele de quem você procura distância é que se aproxima e não larga sua
boca.
Amor é
engolir de volta os conselhos dados às amigas.
(...)
Não se
apaixonará pela pessoa ideal, mas por aquela que não conseguirá se separar. A
convivência é apenas o fracasso da despedida. O beijo é apenas a incompetência
do aceno.
Amar talvez
seja surdez, um dos dois não foi embora, só isso; ele não ouviu o fora e ficou
parado, besta, ouvindo seus olhos.
Amor é
contravenção. Buscará um terrorista somente para você. Pedirá exclusividade,
vida secreta, pacto de sangue, esconderijo no quarto. Apagará o mundo dele,
terá inveja de suas velhas amizades, de suas novas amizades, cerceará o sujeito
com perguntas, ameaçará o sujeito com gentilezas, reclamará por mais espaço
quando ele já loteou o invisível.
Ninguém que
ama percebe que exige demais; afirmará que ainda é pouco, afirmará que a
cobrança é necessária. Deseja-se desculpa a qualquer momento, perdão a qualquer
ruído.
Amar não tem
igualdade, é populismo, é assistencialismo, é querer ser beneficiado acima de
todos, é ser corrompido pela predileção, corroído pelo favoritismo. É não fazer
outra coisa senão esperar algum mimo, algum abraço, algum sentido.
Amor não tem
saída: reclama-se da rotina ou quando ele está diferente. É censura (Por que
você falou aquilo?), é ditadura (Você não devia ter feito aquilo!). É discutir
a noite inteira para corrigir uma palavra áspera, discutir metade da manhã até
estacionar o silêncio.
Amor é uma
injustiça, minha filha. Uma monstruosidade.
Você mentirá
várias vezes que nunca amará ele de novo e sempre amará, absolutamente porque
não tem nenhum controle sobre o amor.
(Fabrício
Carpinejar, crônica “Injustiça” in "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus")