São livros (mas podem
ser canções, filmes, quadros, peças e, antigamente, até pessoas) que você ama
tanto que quer ficar morando dentro dele, dela. Quer ver toda hora. Absorve o
jeito do outro, e esse jeito absorvido da coisa pela qual você está apaixonado,
você fica aplicando no cotidiano, feito você fosse aquela própria coisa
apaixonante. Que nos tira de nós, alarga (...) Você lê e sofre. Você lê e ri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepíos. Você lê,
e a sua vida vai-se misturando no que está sendo lido (...) Tudo isso só me
prova que minhas paixões são semelhantes. Amo tudo que afunda a cara na lama da
vida crua e consegue arrancar o belo desse mergulho (...) Depois abro Adélia
Prado e leio: “a vida é tão bonita/ basta um beijo/ e a delicada engrenagem
movimenta-se/ uma necessidade cósmica nos protege”. Depois durmo, certo de que
ainda há muitas histórias para serem lidas, para serem escritas, para serem
lembradas. Até para serem vividas, quem sabe?
(Caio Fernando Abreu)
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