sábado, 28 de novembro de 2015

O riso.


É preciso se apaixonar pelo riso do outro antes de namorar.
É preciso se apaixonar pela gargalhada antes do romance.
O riso é a brisa farfalhante do rosto. O sopro benfazejo. O recreio das linhas faciais.
É preciso se apaixonar pelo jeito que a pessoa sorri para as fotos, pelo modo como sorri de canto, de boca inteira, flertando o infinito.
Mais do que gostar do corpo ou do olhar, deliciar-se com o riso, maravilhar-se com o riso. O amor não vive em cinema mudo. O amor não vive de legendas. O riso é Espírito Santo: fala todas as línguas.
Não há como se envolver sem admirar o som do contentamento de nossa companhia, o timbre por detrás da risada. O riso é decisivo. Não pode ser melhor do que a piada, nem reprimido como um resmungo.
Não pode ser histérico, muito menos desafinado.
Assim como não se ri olhando para o chão, o riso é o reverso do choro, altivo, otimista, levanta o queixo, bebemos o ar no gargalo do céu.
O riso é a música que cada um traz da orquestra de seu pulmão, desde quando fugia das cócegas de bebê, desde quando se escondia em pilares para receber o susto dos adultos.
O riso é a voz mais pura, determina como gememos ou sussurramos.
Cada um ri como um instrumento. Meu riso é do tambor. Rufadas de risos. Rio alto. Há também o riso safado de tamborim, o riso sensual do saxofone, o riso sério do trompete, o riso lânguido do violoncelo, o riso triste do violino. Nunca se fez um coral de risos, mas que bonito seria compor agudos e graves somente de sorrisos.
Ame o riso do seu amor, para ter vontade de fazê-lo feliz. Do contrário, fará de tudo para que seu par seja triste.

(Fabricio Carpinejar) 

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